Quem circula pela cidade constantemente nem percebe a largura de algumas ruas e avenidas que, tomadas pelo enorme fluxo de veículos, não parecem ter a verdadeira dimensão, mas, felizmente, têm! Ao contrário de outras vias mais antigas e até algumas bem mais novas, notadamente em conjuntos habitacionais, que desafiam a paciência de muitos condutores de veículos. A Avenida Getúlio Vargas, hoje com sua extensão nominada Noide Cerqueira — o que foge à lógica por se tratar da mesma artéria — é um grande exemplo.
Esse cenário de vias amplas favoráveis ao trânsito deve-se muito ao engenheiro José Joaquim Lopes de Brito, ou simplesmente J. J. Lopes de Brito, como ele assinava. Formado na década de 1930 pela Faculdade Politécnica da Bahia, depois nominada Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Brito foi professor de Matemática do extinto Colégio Santanópolis e do Colégio Estadual de Feira de Santana, submetendo-se a rigoroso concurso — como era na época — do qual também participou o ex-prefeito Joselito Falcão de Amorim. Ambos foram considerados experts em Matemática e aprovados.
Até a década de 1970, a placa de J. J. Lopes de Brito estava espalhada por todos os pontos da cidade, já que praticamente não havia arquitetos na "princesa do sertão" e ele atendia a todos que o procuravam. Feira de Santana estava em verdadeira febre expansionista, e a placa de J. J. Lopes de Brito era vista em toda parte. Há quem diga que havia muita similaridade nos projetos arquitetônicos, mas o que não se pode negar era sua capacidade e eficiência no atendimento aos proprietários de imóveis pretendentes a uma edificação.
Além disso, apesar de já apresentar uma notória evolução, a comunidade ainda era muito tradicionalista, não atentando para uma arquitetura mais arrojada, o que logo ocorreria com a entrada no mercado de trabalho de alguns jovens feirenses recém-formados em Salvador, já que Feira de Santana ainda não contava com uma universidade.
Como engenheiro nomeado da Prefeitura Municipal, ele colocou em prática a ideia de produzir projetos de edificações residenciais populares, evitando a proliferação de casas construídas "de qualquer maneira", como se dizia, já que a maioria era levantada sob a direção de "mestres de obras", e outras tantas apenas por pedreiros orientados pelos donos. Ele elaborava projetos de casas residenciais, em estilo popular, de dois a quatro quartos, que eram fornecidos gratuitamente.
Todavia, a maior presença de J. J. Lopes de Brito foi no planejamento da expansão da cidade, como Secretário de Viação e Obras Públicas. Graças a ele, a Avenida Getúlio Vargas, que só existia até a confluência com a Rua Comandante Almiro, no final da década de 1950, foi amplamente ampliada com o trabalho de máquinas e homens, na sua dimensão atual, contrariando até algumas autoridades e populares que, sem a visão futurista dele, achavam absurdo uma avenida com a largura da Getúlio Vargas. Essa posição hoje é perfeitamente compreendida, já que poucos esperavam o crescimento expressivo atingido pela cidade em tão pouco tempo. Isso ocorreu na década de 1950, portanto há 70 anos.
Hoje é notório que ele tinha razão, ou a cidade princesa estaria tolhida do grande desenvolvimento experimentado nos últimos anos, com a circulação de milhares de veículos todos os dias nas vias urbanas, especialmente no centro comercial. A Avenida Brasília, outro logradouro de ampla dimensão, também teve o traçado do punho do doutor Brito, como ele era tratado.
J. J. Lopes de Brito foi diretor do Serviço de Água de Feira de Santana, da Urbis, e ocupou o cargo de Secretário Municipal de Viação e Obras Públicas. Como cidadão e profissional, foi muito estimado pela sua acessibilidade. A todos atendia sem dificuldade. Ligado ao esporte, organizou campeonatos de futebol, abriu campos e também foi atuante dentro das quatro linhas. Quando jovem, jogou no time amador do Fluminense e, até mesmo depois de alcançar a idade madura, na década de 1960, era possível vê-lo, sábado à tarde, no ‘campo dos casados’, onde está localizado o terminal rodoviário, ao lado de Simônidas, Antônio Cerqueira, Pimenta, Lessa, Antônio do Café São Paulo, Walkir Portela, Dario, Betinho (Humberto Magalhães Ferreira) e outros amigos.
Da sociedade feirense fez parte ativamente, presente em eventos importantes e outros de menor relevância. Ele sempre comparecia nos momentos disponíveis durante o decorrer da semana, em clubes ou bares de nível frequentados por amigos. Um uísque importado e o seu inseparável cachimbo, de fumo de excelente odor, enchiam de elegância o local onde ele estivesse. José Joaquim Lopes de Brito deixou um vazio muito grande ao falecer em 2007, mas sua marca permanece pelo trabalho executado. Para alguns, foi "o Niemeyer de Feira de Santana".
Por Zadir Marques Porto
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